domingo, 28 de agosto de 2011

Perspicaz?!



Em 2010, Seu Jorge lançou mais um projeto distinto, mais um álbum cantado em português e inglês. Trata-se do álbum Seu Jorge and Almaz, uma colaboração com dois músicos do Nação Zumbi, grupo perbambucano de forte identificação percussiva idealizado nos 90 pelo falecido músico e agitador cultural Chico Science, um dos cérebros do "manguebeat". Os músicos são o guitarrista Lucio Maia, o baterista Pupillo e mais o contrabaixista e compositor Antonio Pinto, sendo eles o embrião do Almaz que, anteriormente sem nome, fora formado por Antonio Pinto para compor a trilha sonora de um novo filme de Walter Salles. E é assim mesmo, com um reduzido “quarteto”, que Seu Jorge e seu trio Almaz aprontam toda a travessura. Tá certo que não há nenhum elemento “novo” no álbum que já não tenha sido presenciado na história da música popular ou instrumental, mas há, enfim, um mix criativo de sonoridades e de sutis efeitos tecnológicos, há um mix de texturas vintage – oriundas do soul, samba, rock, funk e até mesmo de um country-rock reverberizante – que, aliados aos respectivos grooves brasileiros e americanos, resultam numa farofa moderna de tempero irresistível. Mas o álbum Seu Jorge & Almaz é interessante não só pela concepção de som, mas, principalmente, pelo repertório super-hiper-maxi-diversificado. Ora, o que você diria de um repertório que mescla temas de Nelson Cavaquinho (“Juízo Final”), Roy Ayers (“Everybody Loves the Sunshine”), Baden Powel (“Tempo de Amor”), Michael Jackson (“Rock with You”), Jorge Ben (“Errare Humanum Est”) e do grupo alemão de tecno-dance Kraftwerk (“The Model”)? Pois bem, o álbum é todo contituído de covers que recebem versões pra lá de originais e iconoclastas: e aí destaque-se, por exemplo, a roupagem que Seu Jorge e o Almaz deram à canção bossanovina “Tempo de Amor”, com uma guitarra elétrica reverberizante, a voz rouca, crua e grave de Jorge, uma desafinação proposital nos acordes e, ao fundo, um “groove aleijado” de bossa nova. O trunfo do álbum, portanto, está em apresentar a façanha de quatro músicos fazendo uma música de fácil audição, mas que soa criativa através de um mix de sonoridades e um repertório muito diversificado -- e o melhor é que tudo isso soa coeso e corente, como se não existisse elos estéticos e culturais entre essas faixas de origens tão distintas.






Não é de hoje que ele me encanta e canta absurdamente. Suas letras cheias de gingado e seu groove penetrante. Seu Jorge é dono de muito talento e diversidade.

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